A incidência estimada do cancro em idade pediátrica varia de acordo com a idade, com o tipo de tumor, sexo e raça ou região do mundo, de entre outros fatores. Na Europa, cerca de 15.000 crianças até aos 14 anos de idade e 20.000 adolescentes e jovens adultos dos 15 aos 24, são diagnosticados com cancro todos os anos. Em Portugal, estima-se que surjam anualmente cerca de 400 novos casos entre os 0 e os 18 anos.
A qualidade de vida relacionada com a saúde tem melhorado gradualmente ao longo das últimas décadas, resultado de uma melhoria significativa dos cuidados prestados, tanto a nível da prevenção e do diagnóstico precoce, como também através de modalidades terapêuticas mais eficientes e dirigidas às necessidades individuais de cada doente. Esta optimização dos cuidados de saúde prestados possibilitou um aumento considerável da sobrevida destes doentes. Por outro lado, fruto deste aumento na taxa de sobrevida global, constatou-se igualmente um aumento das sequelas decorrentes da própria doença neoplásica e da toxicidade terapêutica a que estas crianças e adolescentes são sujeitos.
Deparamo-nos, por isso, cada vez mais com a existência de problemas e necessidades que vão muito para além do que é a componente física: perturbações neuropsicológicas, cognitivas, alterações de imagem corporal, baixa auto-estima, depressão, ansiedade, dificuldade de integração social, diminuição do desempenho escolar e profissional, entre outras. Para além disso, também as suas famílias se sentem muitas vezes impotentes para satisfazer todas as necessidades destas crianças ou jovens afectados pelo cancro. Logo desde o diagnóstico de uma doença oncológica, estas famílias são sujeitas a uma alteração marcada da sua dinâmica familiar e de todas as suas rotinas diárias, com um inevitável e intenso desgaste psicológico, emocional e também económico. É imperioso que todas estas falhas repentinas possam ser minimizadas para que estes doentes e suas famílias possam percorrer o seu caminho de uma forma menos penosa, mais digna e com a maior qualidade de vida possível. O conceito de qualidade de vida é muito abrangente e está diretamente ligado à auto-estima e ao bem-estar pessoal. Para além do estado de saúde, engloba várias vertentes que se complementam: autonomia, estado emocional, atividade intelectual, autocuidado, suporte familiar, interação social, integração e desempenho escolar, estabilidade financeira, valores culturais e religiosos, estilo de vida, satisfação com o emprego e/ou com atividades diárias e ambiente envolvente. A abordagem destes jovens e suas famílias deve, pois, ser multidimensional e holística, realçando-se aqui o papel importante da promoção da saúde com vista ao bem-estar físico, mental e social destes doentes e seu agregado familiar.